Eliane F.C.Lima
Sempre ia a espetáculos de cantoras. Extasiava-se. Não olhava, tirava fotografias com os olhos. Preferia as que andavam no palco, levantavam a platéia. Ela era assim.
Mas também olhava em volta, ligeiro sorriso. O público cantando, as palmas, alegria contagiada. Ninguém ficava parado. Com ela também era assim.
Seus espetáculos eram dados sempre à noite, luz apagada, seu quarto. Colocava o fone de ouvido, o disco girando no sonzinho barato: o palco se iluminava, a banda tocando atrás. Ia até perto da platéia, cantava para um, cantava para outra. Fazia turnês pela Europa, sempre em pé, perto da cama.
No dia a dia, emprego cansativo. Merendeira de escola. Ninguém sabia quem ela era. Quem era de verdade. Tinha nascido mesmo era para os palcos. Mas por um esquecimento bobo da sorte, cantava esganiçado, desafinando até em "Parabéns pra você." Tinha nascido sem voz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário