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domingo, 20 de setembro de 2009

Lição

Eliane F.C.Lima

O que mais amava na vida: suas plantas. Tinha algumas numa varanda minúscula do apartamento em Copacabana. Uma jibóia subia pela grade da janela. Parecia parada, mas subia. A cada dia estava mais no alto. Nada a impedia. Obstáculo na frente, dava a volta.
Era a mudez das plantas, sua aparente estática, sua falta de emoção o que a encantava. Ficava horas tentando aprender sua filosofia. Ela, que era toda paixão.
Não conversava com as plantas, como outras pessoas. Não queria incomodá-las. Elas não eram de conversa. Eram um pouco como os gatos. Não, tinham o temperamento dos gatos elevado ao máximo.
Um dia, foi passear com amigos numa praia. E viu umas pedras pequenas, cabiam nas mãos. Brancas, roliças. Encantou-se com elas. Levou várias para casa.
Na varanda, agora, olhava as pedras. Aquilo é que era silêncio. Aquilo é que era falta de emoção. Não interagiam com ninguém, nem com o sol, nem com o vento. Não se molham pedras. Não se podam pedras. E elas nada devolviam, nem em cor, nem em flores. Não precisavam de nada.
Pedras são o âmago dos seres. Batidos no liquidificador e passados na peneira, joga-se o suco fora. Só o que presta é o bagaço.

Um comentário:

ju rigoni disse...

Adorei o conto, Eliane!

"Ela, que era toda paixão."
Ela, que era toda identificação com com plantas e pedras. E quem já não se apaixonou por seus espelhos? rsrs

Bjs e inté!