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segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Caiu na rede... fica imbecil

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)

Será que a solidão me afetou realmente os miolos? Ainda bem que na Internet ninguém me vê. Nem meus amigos. No chat.
No princípio, sentia-me ridículo e não conseguia falar com ninguém. Não só por não conseguir descobrir como é que se entrava na conversa, tecnicamente – aquilo era conversa? –, como por não saber a quem me dirigir. Cheio de franqueza, dizia minha idade: 58 anos. Ninguém me respondia. Até “Ñ enxe tio eu to oculpada.”, eu li. Assim mesmo, com x. Quando, finalmente, entendi o que ela queria dizer com aquele “oculpada”, quem se sentiu “culpado”, fui eu.
Quando alguém falava comigo, eu demorava tanto escrevendo uma resposta, que vinha outro e me arrebatava a garota. Hoje, ñ escrevo +, teclo, quer dizer, “tcl”.
Nas primeiras vezes, fiquei horrorizado. Lia um monte de besteiras e não conseguia me conformar com aquilo. Saía da “sala” – na rede, é claro – e ia para a sala, ver televisão ou dormir.
Ficava mal-humorado durante muitos dias. Pela montanha de tolices que tinha lido, por ter entrado naquele bate-papo ridículo, por não entender nada do que falavam, não descobrir quem falava com quem, por não fazer parte daquele mundo, enfim, ou por concluir, talvez, que eu não fizesse mais parte deste mundo.
Até que resolvi entrar, dizendo: “Aí, galera, sou Bad Boy 22. Foi o “Abre-te, Sésamo.” Ficou quase impossível atender a todo mundo que me respondeu. Concentrei-me em um nome só, qualquer um, sem procurar escolher se as respostas tinham conteúdo ou não. Afinal, nenhuma tinha mesmo.
Era isso. Descobri a chave. E comecei a falar um monte de besteiras mentirosas. Que era baiano. Mas tinha um ap no RJ, de meu tio carioca. E toca a abreviar tudo, para dar tempo e não perder a interlocutora. Aprendi a fazer leitura dinâmica: pega-se um quê qualquer da fala da outra e responde-se àquilo. Se não fizer sentido, não tem importância. O sentido não faz diferença, o que importa é teclar. Escreve-se uma série de “kkkkkkk” depois e faz de conta que era só uma piada. Hoje sou o garanhão do chat. Quando entro, ganho todas as atenções.
O bom é que eu gargalho sozinho, sentado em minha cadeira, das idiotices que digo ali. Rio dos outros, muito... e de mim. Que garantia eu tenho de que Fofona20 não tem setenta anos?

Visite meu blogue Literatura em vida 2, clicando aqui e Poema Vivo por aqui.

3 comentários:

ju rigoni disse...

Oi, Eliane!

Diverti-me lendo esse conto. O melhor significado para essa rede continua sendo armadilha... rsrs

Bjs e inté!

Márcia Morales disse...

Eliane,
vc passou e parece que gostou do meu blog. Eu escrevo de "metida" que sou, porque não sei se escrevo algum tema literário. Eu só sei que "conto". Obrigada pela força, mas quanta "humirdade", eu perto de vc.kkkk
Adorei seu conto e veja o que aconteceu comigo na rede.
http://pamamar.blogspot.com/2010/05/parece-que-num-sei.html
Bjs e sou sua seguidora agora

carmem teresa disse...

Divertido, irônico texto...aquele toque de cinismo que, cá pra nós, sentimos mesmo diante destas conversas muito bem defi
nidas como" um monte de besteiras mentirosas". Só espero que os jovens que ficam horas nisso saibam que também existe uma vida cá fora com muito mais conteúdo . Abçs.