Pesquisar este blog

sábado, 24 de julho de 2010

Pré-histórico

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)

A professora reclamava, as mães dos amiguinhos reclamavam. Sua mãe sempre tinha tentado corrigir aquilo. Em menino, estava sempre de castigo.
Mas nunca adiantou: ele foi até a idade adulta mentindo, como todos diziam. Se estava com alguém, na fila do banco, com os amigos, em qualquer lugar e passava alguém, por exemplo, ele mostrava e dizia:
- Aquele homem ali... – e lá vinha uma história comprida, mas inventada.
Às vezes havia uns lances elaborados e rocambolescos. As pessoas ficavam admiradas. Os desconhecidos acreditavam e ficavam fitando o objeto da história, o tal, com pena, ou revolta, dependia do enredo.

Ele inventava urdiduras até sobre si, visto que fazia uma narrativa em primeira pessoa.
Os amigos, no entanto, foram descobrindo que ele não contava a realidade. Alguns se afastaram dele. Outros faziam questão de não passar por bobos:
- Lá vem esse cara com isso de novo.
Mas a maioria, mesmo sabendo que não era verdade, ouvia e se deliciava. Alguns até apontavam alguém e perguntavam se ele conhecia, só para que inventasse. Ele era capaz de prender a atenção das pessoas por horas. Esses tinham descoberto que o amigo era um ficcionista. Seria um escritor, caso se desse ao trabalho de escrever. Teria ganho muito dinheiro, seguramente. Suas tramas eram de mestre. Mas era um fabulista da oralidade.

Um comentário:

ju rigoni disse...

A imaginação de uma criança não é compreendida pelos adultos. Poucos se dão ao trabalho de pensá-la. Se a linha que separa a imaginação da mentira é tênue, a capacidade de um adulto defini-la para a criança, sem destruir-lhe a vocação, quase sempre é nenhuma.

E, claro, se os amigos da mesma idade não possuem o mesmo potencial imaginativo, o mesmo talento, vão reproduzir o comportamento do adulto, e olhar para ela de modo diferente.

Dinheiro,... não sei se ele ganharia tanto, - não em nosso país. Mas, sim, provavelmente seria capaz de obras que mereceriam respeito.

Seu personagem é muito real. Leva-nos a refletir sobre a infância de alguns autores que, certamente viveram situação, não igual, mas bem semelhante. Tiveram sua fase de "fabulistas da oralidade".

Bjs, Eliane, e inté!