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quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Esotérico

Eliane F.C.Lima

Desde o começo da aula, ele não queria escrever, amuado e encolhido. Instado, disse que estava com muita dor de cabeça.
A professora segurou a mão do menino. Começou a fazer uma massagem oriental para diminuir a dor. Massageou vagarosamente. O menino quieto, olhinhos fechados, sorriso na boca. Perguntado se a dor tinha passado, cabeça que não! Movimentos circulares, a dor não passava nunca. Professora desconfiou de malandragem. Finalmente, ele assentiu e começou a fazer os exercícios.
Na hora do recreio, sala dos professores, deram informação. Irmão de mais quatro e pais separados, cada um deles levou dois filhos. Ele, o mais velho, sobrou e foi para a casa de duas tias solteiras, que reclamavam da herança humana e do dinheiro, que não recebiam, para sustentar o garoto. Ameaçavam todo dia devolver o pequeno.
Só então a professora entendeu: o que tinha resolvido era o carinho ocidental.

Um comentário:

A ilha dentro de mim disse...

Vou lendo os seus contos um a um, sorvendo-os como gotas de vida que temos de saborear lentamente, como se de uma refeição gourmet se tratasse. No final, fico deliciada, mas não saciada - tenho sempre vontade de repetir...

Quando puder, dê-me também a sua opinião sobre o "O peso da escuridão", que não sei bem se é um conto ou o começo de qualquer outra coisa. Certo, certo, é que marca a minha estreia na ficção.
Saudações amigas,
Lídia