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sábado, 6 de novembro de 2010

O filho do lobisomem

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)

Havia um grande boato sobre um lobisomem, rondando, à noite. Um disse me disse, um viu aqui, o outro, acolá, ferrolhos na porta, mal escurecia, mesas ajudando a trancar.

Uma noite, um deu um tiro no breu, duas botucas vermelhas, olhando, dizia. O bicho sumiu para sempre.
Nessa mesma noite, sem mais nem menos, o pai de Honório, depois que todos dormiram, pegou suas roupas e se foi, sem acordar a mulher. Já andava falando em cidade grande há algum tempo.
O povo juntou tudo e garantiu que ele era o lobisomem morto, por mais que a mulher mostrasse as roupas sumidas.
Honório herdou o destino. Meio sorumbático desde menino pela saudade do pai, as pessoas fugiam dele. “Andar de noite, nem pensar”, implorava a mãe. Um vivente corre menos perigo em uma megalópole do que em estúpido lugarejo do interior.
Não namorava, não dançava em festas. Se chegasse à quermesse da igreja com a mãe, o pessoal ia arredando, mudando de barraca. O pobre, sem jeito, desistia e ia embora.
Até que chegou ao local uma mulher, cabelos até os ombros, alguns fios brancos. Pensãozinha no banco, muito sisuda e viúva, também do interior, não dava trela a vizinho, ciosa de sua reputação e da língua alheia. Vivia trancada em casa.
Mas falaram... e não foi de sua honradez. As conversas eram agora sobre uma bruxa que havia na cidade: ela.
O destino, porém, que não quer saber de mitos folclóricos, levou Honório para capinar o terreno de Alzira – a feiticeira –, sem emprego fixo, o coitado, por pura rejeição de todos. E trocou telhas e pintou a casa e acabaram se amando.
No casamento, a mãe dele, madrinha, uns poucos primos e primas de outra cidade. E o padre, muito aliviado e abençoando o casal.
A cidade, contudo, ainda tinha munição: o assunto então era a dúvida sobre que tipo de tinhoso iria nascer dos dois.



Convido meus leitores a meu blogue Literatura em vida 2 (link) e Poema Vivo (link). Estou ainda em Debates Culturais, onde passo, agora a publicar alguns artigos, bastando um clique, na lista "Colunistas", à direita, em Eliane Lima (link).

5 comentários:

Márcia Vilarinho disse...

Como sempre atrativa a sua leitura. Beijos

Graça Lacerda disse...

Amiga!

Seu conto, além de outras características é literalmente...fantástico!!!
Parabéns!
Aqui em meus rincões o pessoal costuma dizer assim: Deus fez, Deus 'ajuntou'!!rs
Adorei, querida mestra!
Honório e Alzira dariam (e por que não afirmar, DÃO!) um romance de classe!!! Se é que ainda já não se tornaram PERSONAGENS de um!!

Beijosss
Com minha admiração, sempre!!!!

Angélica Teresa Almstadter disse...

Gosto de contos pq são curtos e o seus são além de tudo, gostosos de se ler.

Marise Ribeiro disse...

Querida amiga, estou de volta e pra completar o gostinho bom do matar a saudade da sua criatividade literária, você nos presenteia com contos maravilhosos. Aos três mais recentes escritos, rendo-me em aplausos.
Beijos saudosos,
Marise

Beatriz Prestes disse...

Lindo blog!
Texto delicioso de ler!!
Adorei estar aqui minha amiga
Beijo com carinho
Bea