Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)
Sentada na cama, as tralhas ensacadas. Lágrimas, não há mais. O rosto inchado, apenas observa em volta. Tarefa simples: um armário de duas portas, dentro do cubículo. Calor insuportável no verão; umidade entrando nos ossos no inverno.
Tinha criado a filha com muito esforço, solteira, ingênua que fora. Nunca se queixou. A menina enchia-lhe a vida. Pobre, muita faxina tinha alimentado suas bocas, pago seu quartinho, a roupa pouca, os livros da pequena. Estudo reduzido, mas muita honradez ensinada pela mãe.
Não tinha podido garantir sua velhice, contudo. Sobrava dinheiro para isso? A mocinha casara cedo, felizmente. Marido era um homem honesto, trabalhador. Nada faltava em casa. Mas sempre renegara a herança da mulher: a mãe.
Naqueles anos todos, ela, “a velha”, como ele dizia, sem o menor acanhamento, tinha feito tudo para agradar ao genro: lavava as roupas dele, passava com carinho para ver se merecia ao menos consideração. Nada. O homem dizia que aquilo nem correspondia à parte do feijão comido. E o resto? Quarto – quarto? –, luz, água e tudo o mais? Que sina a dele ter de trabalhar o dobro para sustentar boca adicional!
A filha, muito submissa, reclamava no quarto, à noite. As vozes se alteravam. A senhora se encolhia toda na cama.
No dia seguinte, a própria mãe abraçava a outra, ambas lacrimosas, e aconselhava que não fizesse aquilo, imagine, atrapalhar sua felicidade. Os homens eram assim mesmo... e onde iria achar outro tão bom, cumpridor de seus deveres? A moça tentava acreditar.
Agora ele tinha decidido e arranjado tudo. Descoberta uma prima dela, velha também e doente, no interior, tão longe, despachava a sogra para lá.
Saindo pela boca, já, a saudade de sua menina. Mas conformava-se, pensando que libertava a filha para ser feliz. Fosse o que fosse, nunca mais a moça engoliria aqueles desaforos e, afinal – deu um suspiro fundo –, a prima era uma pessoa boa e pacata.
Um “Mãe, tá na hora”, resgatou-a dos devaneios. Levantou-se, condenado à morte, convocado por guardas e padre que lhe batem à porta.
Convido meus leitores a meu blogue Literatura em vida 2 (link) e Poema Vivo (link). Estou ainda em Debates Culturais (link), onde passo, agora a publicar alguns artigos, bastando um clique, na lista "Colunistas", à direita, em Eliane Lima. Recomendo ainda, nesse mesmo endereço, a excelente Cintia Barreto, além de todos os outros.
Sentada na cama, as tralhas ensacadas. Lágrimas, não há mais. O rosto inchado, apenas observa em volta. Tarefa simples: um armário de duas portas, dentro do cubículo. Calor insuportável no verão; umidade entrando nos ossos no inverno.
Tinha criado a filha com muito esforço, solteira, ingênua que fora. Nunca se queixou. A menina enchia-lhe a vida. Pobre, muita faxina tinha alimentado suas bocas, pago seu quartinho, a roupa pouca, os livros da pequena. Estudo reduzido, mas muita honradez ensinada pela mãe.
Não tinha podido garantir sua velhice, contudo. Sobrava dinheiro para isso? A mocinha casara cedo, felizmente. Marido era um homem honesto, trabalhador. Nada faltava em casa. Mas sempre renegara a herança da mulher: a mãe.
Naqueles anos todos, ela, “a velha”, como ele dizia, sem o menor acanhamento, tinha feito tudo para agradar ao genro: lavava as roupas dele, passava com carinho para ver se merecia ao menos consideração. Nada. O homem dizia que aquilo nem correspondia à parte do feijão comido. E o resto? Quarto – quarto? –, luz, água e tudo o mais? Que sina a dele ter de trabalhar o dobro para sustentar boca adicional!
A filha, muito submissa, reclamava no quarto, à noite. As vozes se alteravam. A senhora se encolhia toda na cama.
No dia seguinte, a própria mãe abraçava a outra, ambas lacrimosas, e aconselhava que não fizesse aquilo, imagine, atrapalhar sua felicidade. Os homens eram assim mesmo... e onde iria achar outro tão bom, cumpridor de seus deveres? A moça tentava acreditar.
Agora ele tinha decidido e arranjado tudo. Descoberta uma prima dela, velha também e doente, no interior, tão longe, despachava a sogra para lá.
Saindo pela boca, já, a saudade de sua menina. Mas conformava-se, pensando que libertava a filha para ser feliz. Fosse o que fosse, nunca mais a moça engoliria aqueles desaforos e, afinal – deu um suspiro fundo –, a prima era uma pessoa boa e pacata.
Um “Mãe, tá na hora”, resgatou-a dos devaneios. Levantou-se, condenado à morte, convocado por guardas e padre que lhe batem à porta.
Convido meus leitores a meu blogue Literatura em vida 2 (link) e Poema Vivo (link). Estou ainda em Debates Culturais (link), onde passo, agora a publicar alguns artigos, bastando um clique, na lista "Colunistas", à direita, em Eliane Lima. Recomendo ainda, nesse mesmo endereço, a excelente Cintia Barreto, além de todos os outros.
2 comentários:
É um conto de profundidade imensurável, - que me leva para
muito além da tristeza e de outras emoções que desperta.
Bjs, amiga. Inté!
Pode ser uma estória de vida, repetida nas vidas das gentes deste tempo. Aí como aqui.
Parabéns.
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