Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)
Arrumando a prateleira de cima do enorme armário para fazer lugar para o enxoval da filha noiva, topou com uma caixa de madeira dos tempos de meninota, lá pelos vinte anos. Lá dentro, junto com dúzias de papéis, retratos, clipes e não sei mais o quê, um envelope amarelado.
Antes de abrir, começou a lembrar. Havia tido um relacionamento firme, na adolescência, coisa de muitos anos, quase noiva. Adorava o moço, tinha uma paixão enorme e desejava se casar e passar sua vida com ele. Não o ter a seu lado não passava por sua cabeça loucamente enamorada.
Um dia, o namorado, que sempre parecera fiel e sério, começou a mudar. Pediu para desmancharem o compromisso. Ela não entendeu logo, não acreditou, mas, finalmente, começou a chorar muito, queria saber o motivo. Ele andou falando em liberdade.
Ficou doente, emagreceu muito. Quando ele soube, apareceu correndo, muitos abraços e beijos, pedidos de perdão. Não adiantava, era a ela que ele amava.
O namoro correu nos trilhos mais seis meses. De novo, ele queria escapulir. Dizia que ia casar com ela, certamente, mas precisava, antes, conhecer pessoas novas, para estar firme, quando dissesse “sim”. Nova doença, novas voltas.
Até que recebeu a carta. O rompimento era definitivo. Não adiantava. Ele pretendia cumprir o que tinha determinado. Para se assegurar disso, estava se mudando para a casa do padrinho, um bairro distante e desconhecido dela. Que ela não o procurasse. Era o fim.
Magoada, para a garota o mundo tinha desabado. Não conseguia estudar direito, comer, ver televisão, nem ler, ela que adorava livros. Viveu como morta-viva. Muitos meses, atraída por coisa nenhuma. Lia a carta muitas vezes e chorava outras tantas. Guardou-a, certa de que o amor, como a carta seria testemunha, era para sempre.
Entretanto, como o tempo impera e a pouca idade ajuda, as coisas foram se ajeitando. Os anos se passaram. Namorou diversas vezes, casou, divorciou e agora estava ali, já cinquentona, arrumando o armário.
Abriu o envelope e a carta. Leu com rapidez. E caiu na gargalhada, por pensar que aquilo lhe causava tanta emoção, agora, quanto o manual para se ligar o aparelho de DVD, que tinha comprado há duas emanas. Como é que podia! Era a mesma grafia, eram as mesmas palavras. No entanto parecia que haveria um espírito, que se apossa de um texto em uma determinada época, e que tinha se evadido.
Olhos postos no papel já cansado, mudando de cor, entendeu que o fugitivo era o sentimento antigo, escritor cativante e talentoso, que escrevia, ele, sim, com suas emoções, as palavras de outro. O que havia desaparecido, e para sempre, era a amarelecida e irrecuperável menina do passado.
Arrumando a prateleira de cima do enorme armário para fazer lugar para o enxoval da filha noiva, topou com uma caixa de madeira dos tempos de meninota, lá pelos vinte anos. Lá dentro, junto com dúzias de papéis, retratos, clipes e não sei mais o quê, um envelope amarelado.
Antes de abrir, começou a lembrar. Havia tido um relacionamento firme, na adolescência, coisa de muitos anos, quase noiva. Adorava o moço, tinha uma paixão enorme e desejava se casar e passar sua vida com ele. Não o ter a seu lado não passava por sua cabeça loucamente enamorada.
Um dia, o namorado, que sempre parecera fiel e sério, começou a mudar. Pediu para desmancharem o compromisso. Ela não entendeu logo, não acreditou, mas, finalmente, começou a chorar muito, queria saber o motivo. Ele andou falando em liberdade.
Ficou doente, emagreceu muito. Quando ele soube, apareceu correndo, muitos abraços e beijos, pedidos de perdão. Não adiantava, era a ela que ele amava.
O namoro correu nos trilhos mais seis meses. De novo, ele queria escapulir. Dizia que ia casar com ela, certamente, mas precisava, antes, conhecer pessoas novas, para estar firme, quando dissesse “sim”. Nova doença, novas voltas.
Até que recebeu a carta. O rompimento era definitivo. Não adiantava. Ele pretendia cumprir o que tinha determinado. Para se assegurar disso, estava se mudando para a casa do padrinho, um bairro distante e desconhecido dela. Que ela não o procurasse. Era o fim.
Magoada, para a garota o mundo tinha desabado. Não conseguia estudar direito, comer, ver televisão, nem ler, ela que adorava livros. Viveu como morta-viva. Muitos meses, atraída por coisa nenhuma. Lia a carta muitas vezes e chorava outras tantas. Guardou-a, certa de que o amor, como a carta seria testemunha, era para sempre.
Entretanto, como o tempo impera e a pouca idade ajuda, as coisas foram se ajeitando. Os anos se passaram. Namorou diversas vezes, casou, divorciou e agora estava ali, já cinquentona, arrumando o armário.
Abriu o envelope e a carta. Leu com rapidez. E caiu na gargalhada, por pensar que aquilo lhe causava tanta emoção, agora, quanto o manual para se ligar o aparelho de DVD, que tinha comprado há duas emanas. Como é que podia! Era a mesma grafia, eram as mesmas palavras. No entanto parecia que haveria um espírito, que se apossa de um texto em uma determinada época, e que tinha se evadido.
Olhos postos no papel já cansado, mudando de cor, entendeu que o fugitivo era o sentimento antigo, escritor cativante e talentoso, que escrevia, ele, sim, com suas emoções, as palavras de outro. O que havia desaparecido, e para sempre, era a amarelecida e irrecuperável menina do passado.
Convido meus leitores a meu blogue Literatura em vida 2 (link) e Poema Vivo (link). Estou ainda em Debates Culturais, onde passo, agora a publicar alguns artigos, bastando um clique, na lista "Colunistas", à direita, em Eliane Lima (link) e Recanto das Letras (link).
2 comentários:
Dizem que aprendemos com as dores dos momentos e na verdade vamos nos transformando e nossos sentimentos são como a expansão do mar e quando, depois de muitos verões, buscamos a linha do horizonte, percebemos que ela já está em outro lugar. Nem mais o mesmo mar, nem o mesmo céu, nem mesmo o mesmo olhar. Pleno, como sempre, o seu texto. Beijos
Linda estória. E dá para sorrir.
A menina do passado aparece em todas nós quando tocamos com as nossas mãos pedaços de folhas de papel esquecidos no fundo de uma gaveta, amarelecidos pelo tempo. Mas sentirmo-nos bem com esse toque é o essencial. Amadurecemos :).
Beijo
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