Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)
Todos os dias de manhã, me sento nesta cadeira, em minha varandinha, e olho lá para baixo, para a rua.
Vejo passar uma estudante com o cabelo preso. Tem uma rede delicada em volta desse coque. Embora leve uma mochila às costas, esteja de uniforme de escola, concluo que irá aprender balé após a aula. E a imagino junto com outras mocinhas, mão na barra, um braço curvo para o alto, pernas ora arqueadas, ora retas, fazendo os exercícios que uma mulher, madura e branca, leve sotaque de estrangeira, vai fiscalizando, corrigindo, tudo com uma vareta na mão.
Depois dela, passa uma mulher grávida, com dois meninos correndo na frente. Ela puxa as maletas da escola deles. Caminha devagar e, de vez em quando, grita para que parem e esperem. Seu andar é pesado. Passam sempre à mesma hora.
E eles são sempre ultrapassados por um homem de sapatos... e terno. É grave, mas apressado e caminha com passos largos, uma maleta na mão. Vai esbaforido. Por que ele não acorda mais cedo para poder caminhar com calma e ir em paz?
Os dois meninos param, invariavelmente, na banca de um velhinho de voz frágil, que vende docinhos. A mãe, um pouco atrás, faz com a mão que eles sigam, depois fala, mas eles não arredam pé e ela acaba comprando uma bobagenzinha para cada um. E lá vão eles, cada um guiando seu carro imaginário, que acelera e freia a toda hora, o barulho do motor roncando nos lábios.
Vejo também três mulheres, que vão rindo muito e contando casos. Acho que são vizinhas ou trabalham juntas e há sempre muita história para relembrar. Esperam o ônibus no ponto adiante.
Fico ali na primeira parte da manhã. E sei cada detalhe, cada voz. Há um ano que me sento. As pessoas são sempre as mesmas, a mesma rotina, a mesma expectativa de antes. É um quadro que se movimenta, que tem ruído e vida, mas está fixado em minha memória desde então. Ele muda sem mudar.
Às nove e meia, Juçara me chama com sua voz doce e firme. O lanche está pronto. Vejo a mesa: o leite fumegante, uma cafeteira que cheira até a sala, um bolo – hoje é de milho – quentinho, que saiu do forno. E o queijo, na bandeja de louça de flores azuis. Guiado pelo aroma, levanto com cuidado, me apoio na minha bengala, tão companheira, que vou balançando levemente, para a direita e para a esquerda, nesse caminho que visualizo com a imaginação.
Lembro ao visitante que há postagem minha também em Literatura em vida 2 (link) e em Poema Vivo (link).
Todos os dias de manhã, me sento nesta cadeira, em minha varandinha, e olho lá para baixo, para a rua.
Vejo passar uma estudante com o cabelo preso. Tem uma rede delicada em volta desse coque. Embora leve uma mochila às costas, esteja de uniforme de escola, concluo que irá aprender balé após a aula. E a imagino junto com outras mocinhas, mão na barra, um braço curvo para o alto, pernas ora arqueadas, ora retas, fazendo os exercícios que uma mulher, madura e branca, leve sotaque de estrangeira, vai fiscalizando, corrigindo, tudo com uma vareta na mão.
Depois dela, passa uma mulher grávida, com dois meninos correndo na frente. Ela puxa as maletas da escola deles. Caminha devagar e, de vez em quando, grita para que parem e esperem. Seu andar é pesado. Passam sempre à mesma hora.
E eles são sempre ultrapassados por um homem de sapatos... e terno. É grave, mas apressado e caminha com passos largos, uma maleta na mão. Vai esbaforido. Por que ele não acorda mais cedo para poder caminhar com calma e ir em paz?
Os dois meninos param, invariavelmente, na banca de um velhinho de voz frágil, que vende docinhos. A mãe, um pouco atrás, faz com a mão que eles sigam, depois fala, mas eles não arredam pé e ela acaba comprando uma bobagenzinha para cada um. E lá vão eles, cada um guiando seu carro imaginário, que acelera e freia a toda hora, o barulho do motor roncando nos lábios.
Vejo também três mulheres, que vão rindo muito e contando casos. Acho que são vizinhas ou trabalham juntas e há sempre muita história para relembrar. Esperam o ônibus no ponto adiante.
Fico ali na primeira parte da manhã. E sei cada detalhe, cada voz. Há um ano que me sento. As pessoas são sempre as mesmas, a mesma rotina, a mesma expectativa de antes. É um quadro que se movimenta, que tem ruído e vida, mas está fixado em minha memória desde então. Ele muda sem mudar.
Às nove e meia, Juçara me chama com sua voz doce e firme. O lanche está pronto. Vejo a mesa: o leite fumegante, uma cafeteira que cheira até a sala, um bolo – hoje é de milho – quentinho, que saiu do forno. E o queijo, na bandeja de louça de flores azuis. Guiado pelo aroma, levanto com cuidado, me apoio na minha bengala, tão companheira, que vou balançando levemente, para a direita e para a esquerda, nesse caminho que visualizo com a imaginação.
Lembro ao visitante que há postagem minha também em Literatura em vida 2 (link) e em Poema Vivo (link).
5 comentários:
Que doçura de rotina!
Que delícia de texto!
Muito me apraz bolo de milho, Eliane...como boa mineirinha que sou!rs
Um beijo, minha amiga.
Como sempre, a leitura de seus textos nos leva sempre às cenas que ele descreve, de maneira precisa, límpida e bela. Lindo, sempre. Bjs.
Como sempre, a leitura de seus textos nos leva sempre às cenas que ele descreve, de maneira precisa, límpida e bela. Lindo, sempre. Bjs.
Como sempre, a leitura de seus textos nos leva sempre às cenas que ele descreve, de maneira precisa, límpida e bela. Lindo, sempre. Bjs.
A memória tem esse poder... Um "sentido" que dá sentido e sobrevida aos demais sentidos, Não substiui nenhum deles. Mas, imagine viver sem ela...
Essa gota é mar, Eliane!
Bjs e inté!
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