Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)
Quando olhava para a janela da cozinha do apartamento ao lado via o papagaio pendurado no poleiro, perna acorrentada. A moça olhava e dizia:
- Como vai?
Ele nunca respondia. Aliás, só ouvia uns grasnados sem sentido. Para ela, pelo menos. Imaginava que devia ser revolta, pedido de socorro, condenado sem advogado. Era piada, mas não conseguia achar graça. Sempre combinava que ia consultar o Ibama sobre aquilo. Os dias iam, corridos, as horas mal davam para tudo. Sábado e domingo, ninguém ia atender em repartição pública.
Um dia, cabeça em sua janela, ouviu do outro lado:
- Como vai?
Arrepiou-se toda, como a própria ave fazia. Não acreditou. Parece que para confirmar a dúvida, a repetição:
- Como vai?
Agora em outro tom, mais alto e aflito. Exigência de resposta.
- Eu vou bem. E você, como vai?
- Como vai? – repetiu a ave, feliz do contato.
Ficaram nesse diálogo monótono algum tempo, cada um querendo saber como o outro ia, sem resposta, mas muito alegres de se falarem. Até que a hora reclamou a saída.
Todos os dias, agora, ela ia para a janela, saudar o novo amigo.
Alguns dias depois, entrou com ela no elevador um homem comentando com a mulher:
- Papagaio imprestável. É mudo. Não adianta ensinar.
Viu que era o vizinho dono da ave. “Papagaio imprestável”? Afinal, um papagaio só presta para si, aquela era boa. Além de tirar da mata, de acorrentar sua patinha, ainda insultava o bichinho. Teve vontade de dizer quem é que não prestava, contar a verdade, que o papagaio falava, sim, era inteligente. Mas não ia trair o amigo. Ao contrário. Deixaria de almoçar, mas, naquele dia, ligava para o Ibama.
Quando desligou o telefone, pensou, vitoriosa, que o papagaio não era mudo, é que ele só queria falar na hora certa.
Quando olhava para a janela da cozinha do apartamento ao lado via o papagaio pendurado no poleiro, perna acorrentada. A moça olhava e dizia:
- Como vai?
Ele nunca respondia. Aliás, só ouvia uns grasnados sem sentido. Para ela, pelo menos. Imaginava que devia ser revolta, pedido de socorro, condenado sem advogado. Era piada, mas não conseguia achar graça. Sempre combinava que ia consultar o Ibama sobre aquilo. Os dias iam, corridos, as horas mal davam para tudo. Sábado e domingo, ninguém ia atender em repartição pública.
Um dia, cabeça em sua janela, ouviu do outro lado:
- Como vai?
Arrepiou-se toda, como a própria ave fazia. Não acreditou. Parece que para confirmar a dúvida, a repetição:
- Como vai?
Agora em outro tom, mais alto e aflito. Exigência de resposta.
- Eu vou bem. E você, como vai?
- Como vai? – repetiu a ave, feliz do contato.
Ficaram nesse diálogo monótono algum tempo, cada um querendo saber como o outro ia, sem resposta, mas muito alegres de se falarem. Até que a hora reclamou a saída.
Todos os dias, agora, ela ia para a janela, saudar o novo amigo.
Alguns dias depois, entrou com ela no elevador um homem comentando com a mulher:
- Papagaio imprestável. É mudo. Não adianta ensinar.
Viu que era o vizinho dono da ave. “Papagaio imprestável”? Afinal, um papagaio só presta para si, aquela era boa. Além de tirar da mata, de acorrentar sua patinha, ainda insultava o bichinho. Teve vontade de dizer quem é que não prestava, contar a verdade, que o papagaio falava, sim, era inteligente. Mas não ia trair o amigo. Ao contrário. Deixaria de almoçar, mas, naquele dia, ligava para o Ibama.
Quando desligou o telefone, pensou, vitoriosa, que o papagaio não era mudo, é que ele só queria falar na hora certa.
2 comentários:
Liberdade realmente é um conceito que está perdendo a sua força para a maioria das pessoas na sociedade.
Muito poucos percebem que a possuem e muito menos ainda, que estão privando outros de possuí-la.
"- Papagaio imprestável. É mudo. Não adianta ensinar."
Esse comentário do personagem, para mim, é tudo, Eliane. O "não adianta ensinar", eu já ouvi até de professor da educação fundamental para justificar o baixo rendimento de seus alunos. Sem boa vontade, - sem amor -, seja bicho ou gente, nada é possível.
Pois é! No seu conto como na vida, vez em quando é difícil ter alguma certeza sobre quem é o animal irracional.
Bjs, amiga, e inté!
Postar um comentário