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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Saudade

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)

No local, muitas casas de veranistas pelas ruas de barro. Mas muito espaço ainda verde, matagais.
À noite, as estrelas todas se espremendo naquele céu escuro: audição da cantoria de sapos e grilos, coral assimétrico. Nos caminhos, nem vivalma. Confiantes, corujas metem a cara, muitos u-us cadenciados.
No mato, capim cerrado, folhas grossas e lâminas, de cortar pernas. Touceiras que mãos não arrancam. E árvores muitas. Nenhuma para sombra, servir aos humanos. Crescendo para elas mesmas, livres e selvagens, como as cobras.
No meio de um desses acúmulos – árvores repolhudas –, um coqueiro, único, fino e enorme. Parecia procurar alguma coisa. Fora esticando o pescoço, esticando o pescoço, passadas as copas das companheiras. Havia querido mais, não achando o que buscava.
Levado para ali, projeto de coqueiro, mudar a monotonia, por um cão paisagista, seu toque pessoal. Incomodava as outras, diferente delas. Vento dando, bem ouvia seus murmurinhos, embaixo, inveja e admiração. Mas ele não ligava. O que buscava?
Das ruas-ladeiras, casas de dois andares, varandas largas e brisa, sabia-se a resposta. Lá longe, águas salgadas da lagoa, areia branca debruando o mar, fila de coqueiros: se namoravam à vontade. Sua gente. Mas eram todos pequenos.

Um comentário:

ju rigoni disse...

Bem, denotativamente, essa paisagem parente da que me cerca... Mas uma leitura é uma ou mais viagens dentro de uma viagem que pode jamais ter fim... Aprendi alguns atalhos do caminho com você, lembra? "Análise do Discurso." rsrs Daí,... conotei-me.

Abriram-se uns olhos de ver o de cima e os de baixo. O diferente é sempre plural, embora pareça tão singular...

Ah, amei o "cão paisagista."

Bjs, Eliane, e inté!