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domingo, 4 de julho de 2010

Ermitão

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)

Tinha passado por aqueles reveses terríveis que só a vida sabe inventar. No último, nada mais que um barquinho à vela no meio de um furacão em alto mar.
De repente, quando veio uma onda maior, sua alma caiu no meio da voragem. Não emergiu mais...
Desesperado, sem rumo, sentia-se perdido numa ilha. Resolveu aproveitar o mote. Comprou uma barraca de camping, cobertor e tudo o mais, muito repelente, colocou as contas em débito automático, fechou o apartamento, e se embrenhou pela floresta da Tijuca, panelas e tudo mais nas costas.
Cuidadoso, foi marcando o caminho para voltar, quando preciso. O cuidado para não se perder de vez – perdido já estava, na verdade – ajudou muito a começar a se equilibrar. Pensar em alguma coisa completamente diferente de sua vida, em alguma coisa concreta, foi o começo do remédio.
Passou a morar na barraca, bem escondida, cobertinha para não chover dentro. Fazia sua própria comida, fogãozinho a gás, para não incendiar tudo.
Passava muito tempo sem ver ninguém. E era pássaro, inseto de todo tipo. Nadava em uma cachoeirinha perto, água gelada que só vendo, corpo nu. Pegava dali para cozinhar, lavar roupa. Para beber, trazia um garrafão de vinte litros, lá de baixo.
Porque descia uma vez por mês, para ir ao banco conferir a aposentadoria e comprar mantimentos. Passava em um barbeiro, cortava o cabelo, o máximo de urbanidade que conseguia agora.
Naquele dia, dormia em um hotelzinho barato. De madrugada, ia ao apartamento só para conferir tudo. De manhã, café em uma padaria desconhecida.
Um dia, em sua floresta, braços abertos de preguiça na manhã que raiava, ouviu um barulho perto, no meio do mato. Deu um passo atrás, escondeu-se atrás de uma árvore.
Viu, com surpresa, sua alma meter a cara entre duas enormes moitas, risonha e desafogada.

2 comentários:

ju rigoni disse...

Solidão é uma grande escolha quando se tenta reencontrar a alma. Imagine junto à natureza...

Belo conto, Eliane!

Destaco o desfecho que é, no mínimo, instigante...

Bjs e inté!

Paulo Tamburro disse...

OI ELIANE

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