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domingo, 7 de março de 2010

O espírito do parque

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)

Ela vem não sei de onde. De repente, ela está lá, fazendo caminhada no Aterro do Flamengo. Será? Mas não caminha, dança uma melodia que só ela escuta, sem fiozinho de aparelho de som no ouvido. E é uma dança sem ritmo, meio dança meio andar. O corpo faz um requebrado meio torto, saindo um pouco da direção reta.
E traz, enrolado debaixo do braço, um saco verde de plástico, grande. O mesmo, sempre. Para que será? Onde ficará guardado, quando não está ali? Será que dança também em outros lugares?
Não olha para ninguém. Vai indo, naquele passo incerto.
De repente, do mesmo modo que veio some. Não se sabe o quanto caminha, não se vê a sua volta, como fazem todos os que ali estão.
No entanto, é aquele caminhar rápido das outras pessoas, se ultrapassando, como quem vai para algum lugar, caras sérias, volta feita, sem a finalização de um objetivo, sem a realização de um projeto que parecia indicar a pressa e a concentração, que lembra loucos de hospício, sua desorientação. Olhados de longe são incompreensíveis.
A mulher estranha, não. Parece não querer chegar a lugar nenhum, mas caminhar por puro prazer no meio da natureza, uma festa lúdica, uma comemoração.
Falta-nos, a nós, um bom saco verde a que nos agarremos.

2 comentários:

Marise Ribeiro disse...

Esses seus olhares no cotidiano ou até os olhares voltados para o seu interior transformam-se em maravilhosos conto-gotas, e todos com finais magistrais.
Cara amiga, deixo sempre meus aplausos para sua arte.
Marise

Graça Lacerda disse...

Esse pequeno conto levou-me a indagar sobre muitas facetas da nossa vida atual... que saco verde nos falta? Quem seria o responsável direto para nos dar, doar, presentear ou até mesmo nos "devolver" tantos e tantos sacos verdes roubados de nós???!!!

Eliane,

é muito bom tudo que vc escreve, gostei, e te sigo em dois blogs.

Abraços!

Sinto que tenho muito o que aprender com vc...