Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)
Não tinha emprego nem casa. Chegava perto de uma quitandinha, dono colocando mercadoria na porta. Perguntava se podia ajudar em troca de umas frutas, no fim do dia. Levava muito “não”, mas, às vezes dava certo. E ia levando.
Um dia, família colocava montes de sacos de lixo na porta. Robustos os sacos e a mãe. Suor pingando da cara de todos.
Pediu para ajudar, no final, davam uns trocados para comprar comida. Meio na dúvida, a dona dos entulhos velhos aceitou.
Trabalhou como nunca, até móveis ajudou a desmontar.
Na hora do almoço, sem mais nem menos, a senhora trouxe um prato enorme: macarrão, feijão, legumes, até bife tinha.
À tarde, agradecido, ainda recebeu uma nota de dez.
Antes de ir pela rua, viu um pipoqueiro. Há quanto tempo não comia pipoca, só pelo nariz. Dinheiro era para comida, mas uma vezinha só...
Saco de bobagem na mão, olho nos sacos de lixo na rua. Beiral de loja era para sentar e pensar: será que tinha alguma coisa para aproveitar ali? Quem sabe vendia?
Lambendo ainda os beiços, foi abrindo os sacos, muito cuidadoso, não fosse espalhar nada...
Num deles, um envelope pardo, enrolado, bojudo, quase explodindo. Aberto, surpresa pura. Muitas, muitas notas de cem, em pequenos maços, elástico diligente.
Sacão de plástico preto fechado, envelope pardo debaixo do braço, respirou fundo. Podia retribuir a gentileza do prato de comida ofertado.
Passos firmes para a casa da família, agora homem de novo. Tocou a campainha: dignidade do coração até a ponta do dedo.
Não tinha emprego nem casa. Chegava perto de uma quitandinha, dono colocando mercadoria na porta. Perguntava se podia ajudar em troca de umas frutas, no fim do dia. Levava muito “não”, mas, às vezes dava certo. E ia levando.
Um dia, família colocava montes de sacos de lixo na porta. Robustos os sacos e a mãe. Suor pingando da cara de todos.
Pediu para ajudar, no final, davam uns trocados para comprar comida. Meio na dúvida, a dona dos entulhos velhos aceitou.
Trabalhou como nunca, até móveis ajudou a desmontar.
Na hora do almoço, sem mais nem menos, a senhora trouxe um prato enorme: macarrão, feijão, legumes, até bife tinha.
À tarde, agradecido, ainda recebeu uma nota de dez.
Antes de ir pela rua, viu um pipoqueiro. Há quanto tempo não comia pipoca, só pelo nariz. Dinheiro era para comida, mas uma vezinha só...
Saco de bobagem na mão, olho nos sacos de lixo na rua. Beiral de loja era para sentar e pensar: será que tinha alguma coisa para aproveitar ali? Quem sabe vendia?
Lambendo ainda os beiços, foi abrindo os sacos, muito cuidadoso, não fosse espalhar nada...
Num deles, um envelope pardo, enrolado, bojudo, quase explodindo. Aberto, surpresa pura. Muitas, muitas notas de cem, em pequenos maços, elástico diligente.
Sacão de plástico preto fechado, envelope pardo debaixo do braço, respirou fundo. Podia retribuir a gentileza do prato de comida ofertado.
Passos firmes para a casa da família, agora homem de novo. Tocou a campainha: dignidade do coração até a ponta do dedo.
3 comentários:
Um conto muito tocante, que de certo modo me incomoda...
"agora, homem de novo. Dignidade no coração até a ponta do dedo."
Reflito nessa linha tênue entre o ser e o ter...
Bjs, Eliane, e inté!
Visto que aquele homem paupérrimo, ia, cheio de alegria, devolver o dinheiro e, dessa forma, a gentileza daquela família que o havia acolhido tão bem, "ser" está intrinsecamente ligado a "ter... dignidade". Assim, não há nenhuma linha tênue que se interponha entre esses dois aspectos.
Eliane F.C.Lima
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