Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ)
Um
estrondo. Era o fim do mundo.
Acendeu
a luz. Não entendeu logo. A copa de uma árvore entrando pela janela
aberta.
Uma
revoada de passarinhos no quarto. Batiam em seu rosto. Voavam
desesperados para todos os lados.
Abaixou-se
no chão. Viu uns três. A árvore da rua havia quebrado e caído
sobre sua janela, com certeza. Já tinham previsto aquilo e
reclamado. Ninguém tinha vindo cortar.
Atordoadas,
as aves não sabiam o que fazer. A luz acesa piorava. Chocavam-se de
um lado para o outro, tão desnorteados como seu coração, que
também batia desesperado nas paredes do peito. Sentia vertigem.
Apagou
a luz e saiu do quarto, tropego, tentando recobrar a lucidez. Ficou
olhando do corredor, tentando se acalmar, estatelado contra a parede.
Ainda via os pobres bichos zanzando, semi-iluminados
pela luz da rua, filtrada entre os galhos.
Uma
surpresa, era isto. Uma surpresa para ele, em seu mundinho de sono,
tranquilo. Aquilo era o imprevisto, a invasão do inesperado, de um
mundo desconhecido. Acordado por seres de outro planeta. Pássaros
são bucólicos e belos, quando voam no céu, quando pousados nas
árvores e fios, quando pressentidos em seus ninhos nas árvores.
Desse modo, pertencem ao nosso mundo. Entrando pelo quarto, à
meia-noite – que horas seriam? –, equivaliam a vampiros, que
invadem traiçoeiros.
Uma
surpresa para eles também. Que susto não sentiram ao ver seu mundo
desabando, quando foram jogados ali dentro, quando a luz se acendeu,
como câmara de tortura! O pavor do inesperado. Do inimaginável. A
desagregação de seu universo.
E
ele ali, a andar, tonto, como ser de outro planeta. Seu quarto era
outro planeta. Presos entre aquelas paredes, sem possibilidade
alguma de fuga.
Com
toda a cautela, voltou agachado ao quarto. Já não ouvia barulho.
Deviam estar pousados, estatelados contra a parede também, tentando
entender o que tinha acontecido. Aproximou-se da janela, afastou como
pôde
alguns
ramos,
deixando
passar
a
claridade
dos
postes
para
que
a
abertura
fosse
vista.
Pegou, sorrateiramente, uma roupa
para descer até a rua. Já ouvia vozes assustadas lá embaixo.
Quando voltou, bem mais tarde, seu
mundo estava de volta.
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