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domingo, 19 de junho de 2011

Noturno

Eliane F.C.Lima (Registrado no EDA)

Viu a figura flexível, um pouco à frente, na estrada escura e só iluminada pelos faróis. Não houve tempo para nada.
Na primeira oportunidade que encontrou, estacionou o carro, tremendo, o estômago embrulhado.
Depois de respirar fundo e um longo tempo depois, conseguiu voltar a dirigir, devagar, com medo de uma nova surpresa.
Não tinha sido culpa sua. Como ver naquela escuridão aquele animal, que, na sua imprevidência, não tomou cuidado?!
Ainda bem que tinha sido um gato e não um cachorro. Se odiou por esse pensamento. Como conseguia ser discriminador naquele momento? Os dois eram dois bichos que mereciam viver. De novo a vontade de vomitar.
Era um breu aquela estrada. Iria escrever cartas aos jornais reclamando. Aquilo era um perigo. Nada se via ali.
Então como sabia que era um gato? Como sabia que era um bicho, enfim? As luzes dos faróis podiam tê-lo enganado, ilusão de ótica, como se diz. O jogo de claro e sombra criando a impressão de movimento.
Mas sentiu o baque nos pneus. Um pedaço de galho caído daria a mesma sensação, refletiu. Havia chovido e ventado na véspera. Quem sabe até, não foi aquele, exatamente, o momento em que o pedaço caía?
Aos poucos, o coração foi assumindo o ritmo normal. Conseguiu guiar com segurança.
No dia seguinte, assim que acordou, sem examinar o carro, levou a um posto para uma lavagem completa. Podia ter ficado algum resto de madeira podre agarrado aos pneus.
(Aguardo sua visita em Literatura em vida 2 e Poema Vivo.)

Um comentário:

ju rigoni disse...

Um texto instigante, Eliane. À luz do dia seguinte, o lavar a consciência,... estranhamente capaz de algum sinal de vida em meio escuridão. E essa última frase do conto... Gota que transborda em significados...

Bjs, mestra. Inté!