Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)
Ele se sentava num banco de praça do centro da cidade e olhava para um prédio enorme qualquer. E imaginava um corpo caindo dali. E o povo, que a princípio tinha corrido de susto, ia se aproximando para ver bem visto, curiosidade sádica de ser humano.
A mulher se chamaria Teresa, com certeza. Tinha sido traída pelo marido. A nonagésima vez, provavelmente. Nas outras, choro, gritos, no final, perdão. Para tomar fôlego, deixar o coração se recompor até a próxima. Embora passasse uns meses ainda com raiva, pensando numa vingança bem doída para ele.
A cada novo evento, o desejo aumentava, como dinheiro posto na poupança, crescia um pouquinho de nada, nunca, porém, ficava igual ao que era antes.
Dessa vez, Teresa não teria chorado. Havia passado o apartamento em que moravam e que tinha comprado antes do consórcio com o ingrato para o nome da cunhada, viúva de seu irmão, a quem Abreu não suportava e fizera um monte de desaforos, sem motivo algum, e tinha proibido a visita. Aquela não iria perdoar: sairia despejado sem dó nem piedade.
Tinha, também, raspado todo o dinheiro que tinha no banco, conta só dela, e depositado no nome do irmão de sua empregada, anonimamente, já avisada a outra do fato. Segredo entre os três. Abreu não teria como rastrear a quantia. Haveria de pagar, de seu bolso, o enterro dela.
Na imaginação do homem sentado na praça, Abreu chegaria, o safado. Viria com uma colega de trabalho – aquilo era colega, toda solicita com o susto dele e cheia de intimidade, parecia ter planos pela morte de Teresa?
Polícia, repórter, flashes, Abreu fingiria desespero e choro ao reconhecer o corpo da companheira para os policiais. A multidão, em volta, não perderia um lance, alguns não voltariam hoje de novo ao emprego, muitos retornariam no fim do expediente para conferir, o corpo ainda ali, plástico preto, que levantava com o vento, deixando ver a sandália e o pé bem-feito.
Com certeza, Abreu, iludido, contabilizaria logo a suposta herança. De seu banco de praça, o imaginador sorria, imaginando como o safardana, dali a alguns dias, odiaria Teresa ao descobrir que ela tinha premeditado tudo antes do gesto extremo.
Por enquanto, do banco, os olhos do homem seguiriam aquele nada, que, finalmente, iria em direção ao estacionamento além da esquina, já de mão dada com o outro nada, que, muito rebolativa em seus saltos altos, ousaria gargalhar, relaxada. (Vá para a análise deste conto no link).
(Aguardo você em Literatura em vida 2 e Poema Vivo.)
Ele se sentava num banco de praça do centro da cidade e olhava para um prédio enorme qualquer. E imaginava um corpo caindo dali. E o povo, que a princípio tinha corrido de susto, ia se aproximando para ver bem visto, curiosidade sádica de ser humano.
A mulher se chamaria Teresa, com certeza. Tinha sido traída pelo marido. A nonagésima vez, provavelmente. Nas outras, choro, gritos, no final, perdão. Para tomar fôlego, deixar o coração se recompor até a próxima. Embora passasse uns meses ainda com raiva, pensando numa vingança bem doída para ele.
A cada novo evento, o desejo aumentava, como dinheiro posto na poupança, crescia um pouquinho de nada, nunca, porém, ficava igual ao que era antes.
Dessa vez, Teresa não teria chorado. Havia passado o apartamento em que moravam e que tinha comprado antes do consórcio com o ingrato para o nome da cunhada, viúva de seu irmão, a quem Abreu não suportava e fizera um monte de desaforos, sem motivo algum, e tinha proibido a visita. Aquela não iria perdoar: sairia despejado sem dó nem piedade.
Tinha, também, raspado todo o dinheiro que tinha no banco, conta só dela, e depositado no nome do irmão de sua empregada, anonimamente, já avisada a outra do fato. Segredo entre os três. Abreu não teria como rastrear a quantia. Haveria de pagar, de seu bolso, o enterro dela.
Na imaginação do homem sentado na praça, Abreu chegaria, o safado. Viria com uma colega de trabalho – aquilo era colega, toda solicita com o susto dele e cheia de intimidade, parecia ter planos pela morte de Teresa?
Polícia, repórter, flashes, Abreu fingiria desespero e choro ao reconhecer o corpo da companheira para os policiais. A multidão, em volta, não perderia um lance, alguns não voltariam hoje de novo ao emprego, muitos retornariam no fim do expediente para conferir, o corpo ainda ali, plástico preto, que levantava com o vento, deixando ver a sandália e o pé bem-feito.
Com certeza, Abreu, iludido, contabilizaria logo a suposta herança. De seu banco de praça, o imaginador sorria, imaginando como o safardana, dali a alguns dias, odiaria Teresa ao descobrir que ela tinha premeditado tudo antes do gesto extremo.
Por enquanto, do banco, os olhos do homem seguiriam aquele nada, que, finalmente, iria em direção ao estacionamento além da esquina, já de mão dada com o outro nada, que, muito rebolativa em seus saltos altos, ousaria gargalhar, relaxada. (Vá para a análise deste conto no link).
(Aguardo você em Literatura em vida 2 e Poema Vivo.)
Um comentário:
Nossa! Incrível. Muito bom, seco, conciso, certeiro!
Há tempos não via achava um blog que me chamasse atenção... passarei aqui mais vezes.
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