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domingo, 22 de maio de 2011

Ampulheta

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)

Agora é tarde. A essa hora Camila já casou e daqui a pouco embarca para a Europa.

Não adianta se arrepender de não ter aceito o pedido de casamento dela e ter pretendido continuar enrolando.
Não adianta ir ao aeroporto e gritar, aos prantos, que é mesmo louco por ela.
Não adianta, na primeira festa em que se encontrarem, olhar bem fundo aqueles olhos castanhos e jurar, através de seus próprios olhos, que nunca amou nem amará outra mulher.
Não adianta, agora, se prometer que nunca mais a trairá, às escondidas, com aquelas mulheres todas, que o deixavam tão envaidecido e, afinal, teve certeza, não valiam nada para ele.
Não adiantam o cargo de diretor da empresa, que começou a exercer, o apartamento novo para onde se mudou há dois meses, o carro que irá buscar amanhã na concessionária.
Não adianta parar de se embebedar de vinho e acender a luz. O relógio digital, sobre a estante, mostra, implacável, que é muito tarde.

2 comentários:

Graça Lacerda disse...

Olá, amiga!

Que bom voltar aqui e ler um miniconto tão agradável desses!
Parabéns, sempre, pois você é uma grande escritora. Seu estilo é muito especial, acho que já lhe disse isso uma vez.
Aprecio muitíssimo as frases curtas, entremeadas com as longas, o que confere muita realidade na escrita, ainda que esta seja ficção...
Um grande abraço, e obrigada por ir avisar-me da sua volta.
Graça Lacerda

ju rigoni disse...

"Nunca é tarde" para aprender com os seus escritos. "Não adianta" negar. De mestre, a escolha de palavras. Levei um tempo,... rsrs, até que meu cuco entrasse em sintonia...

Bjs, amiga. Inté!