Eliane F. C. Lima
Passava a noite sem dormir, vigia de posto. Havia uma cadeira, mas só podia tirar pestana. Em frente, a casa do aposentado, amigo do dono. Tinha insônia, o desgraçado, funcionário perfeito. Os anteriores foram dispensados por fofoca do tal.
De manhã, fala alta e alegre do empregado diurno, bem dormido. Saía trôpego, mas o sono adiado. Pegava em outra lojinha, na Saara, centro do Rio, olho atento no entra e sai, mercadorias ao alcance das mãos de má fé. Dormir fundo só depois do almoço, em casa. Filhos na escola, à tarde, condição imposta. Seu projeto de vida: quarto escuro, silêncio, uma cama.
A trégua era o ônibus até o centro da cidade, de um emprego para o outro. Sentava no canto. Não falassem com ele. Era uma meia hora mergulhado. Saltava no ponto final, acordado pelo grito do cobrador.
Quando entrou, procurou logo seu lugar. Tudo ocupado. Levanta um cristão. Do assento de fora.
Sentou, mas não teve sossego. Ia caindo no corredor. Segura com a mão, segura com o pé, cai para cima do outro passageiro, que já estava de cara feia. O sono não engata, olho aberto, olho fechado, olho aberto, olho fechado, olho aberto. As pálpebras escorregando, sem controle.
Olhar esgazeado, de zumbi. De repente, no canto aninhado. Leva um solavanco, sacudido o ombro. Era começo de sonho.
Senta reto no banco, posição de soldado no posto. Concentra os olhos na nuca do da frente. É pior. Não leva um minuto. Começa tudo de novo. Olho fechado, olho aberto, olho fechado. Segura com o pé, a mão aperta o banco da frente. Curva violenta, por um triz não vai ao chão.
O do canto não salta, aparafusado no assento. Rosto para fora, vendo as paisagens, dormiu a noite toda. Usurpador. O lugar que por direito era dele. Todos os dias sentava ali...
O pensamento submerge nas brumas. A realidade volta na primeira freada do ônibus, acordado de novo.
Ele quase chora. Novamente a luta: pé, mão, aberto, fechado, quase chão.
De repente, cutucado no ombro. O palerma do canto vai saltar. Canto vago. Nem pensa: se joga contra a janela. Olho fecha. Cabeça cai. Boca abre.
- Ponto final!
Passava a noite sem dormir, vigia de posto. Havia uma cadeira, mas só podia tirar pestana. Em frente, a casa do aposentado, amigo do dono. Tinha insônia, o desgraçado, funcionário perfeito. Os anteriores foram dispensados por fofoca do tal.
De manhã, fala alta e alegre do empregado diurno, bem dormido. Saía trôpego, mas o sono adiado. Pegava em outra lojinha, na Saara, centro do Rio, olho atento no entra e sai, mercadorias ao alcance das mãos de má fé. Dormir fundo só depois do almoço, em casa. Filhos na escola, à tarde, condição imposta. Seu projeto de vida: quarto escuro, silêncio, uma cama.
A trégua era o ônibus até o centro da cidade, de um emprego para o outro. Sentava no canto. Não falassem com ele. Era uma meia hora mergulhado. Saltava no ponto final, acordado pelo grito do cobrador.
Quando entrou, procurou logo seu lugar. Tudo ocupado. Levanta um cristão. Do assento de fora.
Sentou, mas não teve sossego. Ia caindo no corredor. Segura com a mão, segura com o pé, cai para cima do outro passageiro, que já estava de cara feia. O sono não engata, olho aberto, olho fechado, olho aberto, olho fechado, olho aberto. As pálpebras escorregando, sem controle.
Olhar esgazeado, de zumbi. De repente, no canto aninhado. Leva um solavanco, sacudido o ombro. Era começo de sonho.
Senta reto no banco, posição de soldado no posto. Concentra os olhos na nuca do da frente. É pior. Não leva um minuto. Começa tudo de novo. Olho fechado, olho aberto, olho fechado. Segura com o pé, a mão aperta o banco da frente. Curva violenta, por um triz não vai ao chão.
O do canto não salta, aparafusado no assento. Rosto para fora, vendo as paisagens, dormiu a noite toda. Usurpador. O lugar que por direito era dele. Todos os dias sentava ali...
O pensamento submerge nas brumas. A realidade volta na primeira freada do ônibus, acordado de novo.
Ele quase chora. Novamente a luta: pé, mão, aberto, fechado, quase chão.
De repente, cutucado no ombro. O palerma do canto vai saltar. Canto vago. Nem pensa: se joga contra a janela. Olho fecha. Cabeça cai. Boca abre.
- Ponto final!
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