Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ)
Chegou devagar, atendendo ao chamado. A luz era pouca, de abajur.
Sentado à poltrona, um homem lia. Parecia absorto, interessado. Às vezes, um sorriso leve, apenas pretendido. Sabia exatamente que trechos ele estava lendo. Aqueles de pura ironia. Ele próprio se deliciara com eles, tão cuidadoso, quando escrevia.
Sentou-se também, outra poltrona em frente, na penumbra. E ficou ali, alimentado-se das expressões do outro, seus ligeiros esgares de prazer, adivinhava.
Passaram-se duas horas até que o outro se levantasse, preparasse a cama que ficava adiante, se despisse, apagasse a luz.
Permaneceu sentado no escuro, respirando as últimas emanações da leitura daquele homem. Parecia de poucas posses, morando num quarto. Mas, quando chegou, reparou nas duas estantes de livros, que disputavam espaço com a passagem. Livros bons, muitos clássicos. E seu livro tinha entrada garantida.
Avançou o corpo para um banco ao lado da poltrona e viu, forçando a vista, mais dois livros de sua autoria.
Tinha sido chamado assim que os olhos do outro começaram seu bailado pelas páginas que tinha escrito. Antes não tinha esse prazer, não podia saber. Agora era chamado, atraído era o termo melhor. Aquela sensação de estar sendo convocado, invocado, evocado, na verdade. Vinha sem poder se negar. Involuntariamente. E vinha, existência perpetuada.
Um comentário:
Gostei do seu último conto "Noite em fora". Até o título é interessante.
José Lobo
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