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terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Pessoa

Eliane F.C.Lima

Um dos seres humanos mais dignos que conheci foi minha tia avó.
Quando nova era orgulhosa. Não aceitara o relacionamento amoroso do pai, viúvo há muitos anos, com uma governanta da casa. Morando na parte de cima, entrava toda vez que a outra aparecia no quintal.
Ficou solteira a vida toda, mesmo não querendo. Tinha sido apaixonada por um rapaz judeu, que a queria também, mas que avisava:
-Quando eu sumir, é porque me casei com uma moça de minha religião.
Dito e feito.
Teve outros namoros, todos gorados.
Um dia, já ida nos anos, conheceu um senhor. Marcou com ela de ir conhecer sua família. Não apareceu.
Contatada a família, revés do destino: morreu na frente do espelho, enquanto dava o laço na gravata.
Com o tempo, já sozinha e só com uma pensãozinha que lhe deixara uma madrinha, teve de trabalhar como acompanhante de uma senhora com problemas mentais, fez serviço de empregada doméstica.
A vida tinha girado. Mas com o mesmo sentimento com que não tinha aceitado o casamento do pai, aceitou sua própria condição, sem nunca reclamar nada, fazendo o que devia fazer. Não parecia triste nem humilhada. Agora o orgulho não era mais defeito, era pura honradez.

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