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domingo, 5 de dezembro de 2010

Fluminis

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)

Sempre sentava à beira do rio na parte da tarde, até começar a escurecer ou os mosquitos chegarem. Naquele dia, não foi diferente. Ou foi.
Dentro d'água havia algo como uma água-viva, mas não era mar, era rio. Algo como uma bola de cristal, mas boiava. Transparente e leve.
Meteu a mão por baixo, meio a medo. E venho trazendo para cima, devagar.
O sol bateu em cheio. E brilhou, em mil cores de cristal. Mas redonda.
Não sabia o motivo, mas a pele dos braços estava arrepiada. E os cabelos também.
E maravilhada viu que a luz não caía do sol sobre ela, mas subia daquilo para o sol. Ia subindo por um caminho aéreo, como milhões de partículas – douradas, azuis, esverdeadas, levemente rosas, brancas, transparentes? – e não via mais o seu começo. Perdido no espaço, os olhos ofuscados pela claridade da luz do sol ou daquilo.
Deslumbrada e, ao mesmo tempo, com muito susto, foi colocando a água-viva, bola de cristal, redondeza brilhante e leve – percebeu, sem consciência, que afinal não tinha peso – no chão. E sua mão ainda ficou cheia das partículas da estranha purpurina – que outro nome dar àquilo?
Mas a coisa estranha não baixou ao chão. Ficou meio levitando sobre o ar. E, em volta, nada se via bem, como em um dia de verão intenso, o clarão do sol apaga todas as formas.
Ela enxergou, porém, no brilho que subia uma forma de escada. E levantou o pé, toda indecisa, levada, entretanto, por um desejo sem nome. E foi, de degrau dourado e azul e esverdeado e levemente rosa e branco e transparente em degrau dourado e azul e esverdeado e levemente rosa e branco e transparente, subindo, já, ela mesma, água-viva, bola de cristal.
O pescador que chegou logo depois não viu nada.
(Conto registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ)


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