Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)
Sol começando a sumir, punha-se a esperar pelo marido, debaixo da mangueira enorme, sombra sobre a casinha pequena. Banquinho simplesinho de madeira. A comida já quentinha, o banho tomado, cabelos soltos, presa, uma flor da roseira.
O cachorro magro se levantava, espetava as orelhas e balançava o rabo, antes de ninguém ver. Lá vinha ele, enxada nas costas, bolsa das sementes no lado, a outra bolsa com a marmita e a garrafa d’água. Andando devagar, chapéu desabado sobre os olhos para tampar do sol.
Trabalhava sozinho na rocinha. Não colhiam muito, mais para comer. Vendiam alguma coisa na feira de domingo. E os ovos das galinhas que ela criava.
Não tinham filhos. Mas até que era bom. O que colhiam não daria para mais outra boca.
Vista ela, ele sorria um sorriso largo, mostrando os dentes lindos, na boca mais linda ainda. Ela achava. Magro, moreno de queimado.
O cachorro já vinha junto, pulando de contente. Ela não pulava, mas era só o que faltava. Abraçava seu homem, feito tivesse vindo de outro planeta. Era esse o sentimento. Nunca acostumada com tanta felicidade. A vida pobre era só um detalhe.
Ele não tinha sido o moço mais bonito do lugar. Nem o melhor dançador. Nem o mais simpático. Caladão que só ele. Mas ela achava muita sorte que ele tivesse se apaixonado por ela. Se achava sem-gracinha, desenfeitada. E era um homão, só ela que sabia, ainda bem. Mesmo depois do trabalho do dia todo, do sol forte, do cansaço. O abraço dele, na cama, era de queimar. Toda minhoquinha debaixo dele.
Às vezes, ela tinha de ir à roça ajudar. Era quando, por sorte e trabalho duro dele, iam colher mais.
Acordava ainda escuro, feliz da vida, fazia uma marmita dupla, quentinha e enrolada em muitos panos. Chapéu na cabeça.
Passava o dia enchendo cestos. Voltava cansada e moída, mas o coração farto de contente.
Queria ir sempre. O marido não deixava. Dizia que ela não tinha de se cansar tanto todo dia. Mas um dia, sem querer, ele soltou a verdade: preservava como tesouro as idas dela à lavoura. Para ele, também eram dias de festa.
Sol começando a sumir, punha-se a esperar pelo marido, debaixo da mangueira enorme, sombra sobre a casinha pequena. Banquinho simplesinho de madeira. A comida já quentinha, o banho tomado, cabelos soltos, presa, uma flor da roseira.
O cachorro magro se levantava, espetava as orelhas e balançava o rabo, antes de ninguém ver. Lá vinha ele, enxada nas costas, bolsa das sementes no lado, a outra bolsa com a marmita e a garrafa d’água. Andando devagar, chapéu desabado sobre os olhos para tampar do sol.
Trabalhava sozinho na rocinha. Não colhiam muito, mais para comer. Vendiam alguma coisa na feira de domingo. E os ovos das galinhas que ela criava.
Não tinham filhos. Mas até que era bom. O que colhiam não daria para mais outra boca.
Vista ela, ele sorria um sorriso largo, mostrando os dentes lindos, na boca mais linda ainda. Ela achava. Magro, moreno de queimado.
O cachorro já vinha junto, pulando de contente. Ela não pulava, mas era só o que faltava. Abraçava seu homem, feito tivesse vindo de outro planeta. Era esse o sentimento. Nunca acostumada com tanta felicidade. A vida pobre era só um detalhe.
Ele não tinha sido o moço mais bonito do lugar. Nem o melhor dançador. Nem o mais simpático. Caladão que só ele. Mas ela achava muita sorte que ele tivesse se apaixonado por ela. Se achava sem-gracinha, desenfeitada. E era um homão, só ela que sabia, ainda bem. Mesmo depois do trabalho do dia todo, do sol forte, do cansaço. O abraço dele, na cama, era de queimar. Toda minhoquinha debaixo dele.
Às vezes, ela tinha de ir à roça ajudar. Era quando, por sorte e trabalho duro dele, iam colher mais.
Acordava ainda escuro, feliz da vida, fazia uma marmita dupla, quentinha e enrolada em muitos panos. Chapéu na cabeça.
Passava o dia enchendo cestos. Voltava cansada e moída, mas o coração farto de contente.
Queria ir sempre. O marido não deixava. Dizia que ela não tinha de se cansar tanto todo dia. Mas um dia, sem querer, ele soltou a verdade: preservava como tesouro as idas dela à lavoura. Para ele, também eram dias de festa.