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sábado, 10 de novembro de 2012

Armageddon

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Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ)

Um estrondo. Era o fim do mundo.
Acendeu a luz. Não entendeu logo. A copa de uma árvore entrando pela janela aberta.
Uma revoada de passarinhos no quarto. Batiam em seu rosto. Voavam desesperados para todos os lados.
Abaixou-se no chão. Viu uns três. A árvore da rua havia quebrado e caído sobre sua janela, com certeza. Já tinham previsto aquilo e reclamado. Ninguém tinha vindo cortar.
Atordoadas, as aves não sabiam o que fazer. A luz acesa piorava. Chocavam-se de um lado para o outro, tão desnorteados como seu coração, que também batia desesperado nas paredes do peito. Sentia vertigem.
Apagou a luz e saiu do quarto, tropego, tentando recobrar a lucidez. Ficou olhando do corredor, tentando se acalmar, estatelado contra a parede. Ainda via os pobres bichos zanzando, semi-iluminados pela luz da rua, filtrada entre os galhos.
Uma surpresa, era isto. Uma surpresa para ele, em seu mundinho de sono, tranquilo. Aquilo era o imprevisto, a invasão do inesperado, de um mundo desconhecido. Acordado por seres de outro planeta. Pássaros são bucólicos e belos, quando voam no céu, quando pousados nas árvores e fios, quando pressentidos em seus ninhos nas árvores. Desse modo, pertencem ao nosso mundo. Entrando pelo quarto, à meia-noite – que horas seriam? –, equivaliam a vampiros, que invadem traiçoeiros.
Uma surpresa para eles também. Que susto não sentiram ao ver seu mundo desabando, quando foram jogados ali dentro, quando a luz se acendeu, como câmara de tortura! O pavor do inesperado. Do inimaginável. A desagregação de seu universo.
E ele ali, a andar, tonto, como ser de outro planeta. Seu quarto era outro planeta. Presos entre aquelas paredes, sem possibilidade alguma de fuga.
Com toda a cautela, voltou agachado ao quarto. Já não ouvia barulho. Deviam estar pousados, estatelados contra a parede também, tentando entender o que tinha acontecido. Aproximou-se da janela, afastou como pôde alguns ramos, deixando passar a claridade dos postes para que a abertura fosse vista.
Pegou, sorrateiramente, uma roupa para descer até a rua. Já ouvia vozes assustadas lá embaixo.
Quando voltou, bem mais tarde, seu mundo estava de volta.

Aguardo sua visita em meus blogues Poema Vivo (link) e Literatura em vida 2 (link).