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sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Eternidade

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais) 

Parado ali. Esperava o momento entre dezoito horas e dezoito e trinta. “Desce alegre e sorridente, os homens todos em volta, 'colegas de trabalho', diz. Homens. Ela adora homens.” Faltam três minutos.
Debaixo da camisa: “Esse peso apertando a barriga.”. Apalpa. Tem de estar à mão. Para puxar. Às seis e meia. “Vai funcionar? Será que eu sei?”.
Quer ver o sorriso morrer na boca. Entre seus homens. “Só colegas de trabalho!”. Vagabunda.
Olha o relógio: faltam ainda três minutos? Esse relógio não anda. “Está parado?”. O ponteiro de segundos pulando, alegremente.
“Ainda bem: faltam três minutos.”.  Um grande frio na barriga. Medo enorme. O frio é por dentro. Não é do estorvo enfiado pelo cós das calças.
Aguentou tudo. Ver a cretina sempre cercada de homens, quando ia buscar. “Você é ciumento demais”, ouviu. “É obsessivo”, “É doente, procure um médico”. E os homens. Sempre os homens. Raramente via uma mulher ao lado.
“Não aguento mais você!”. Um dia chegou, ela tinha ido embora. Era aquilo que queria. Ficar solta, ficar livre. E o doente era ele. Ele é que aguentou muito, aguentou tudo. Todas as humilhações. Agora é o fim. “Faltam dois minutos?”. “Faltam dois minutos!”.  Suspirou aliviado.
Não sabe o que vai haver depois. “Não importa!”. Olha o relógio: faltam dois minutos para se livrar daquele desespero, dia e noite, dia e noite.
Mesmo estando em casa, representava mentalmente a desgraçada saindo pela porta do edifício, rindo-se com seus homens. Lá dentro é o escritório. “Imagino o que fazem ali.”
“Agora que está sozinha, deve ir-se deitar em lugar mais confortável.” Morde a ponta dos dedos, arranca pele, que sangra. Apalpa a cinta. “O médico está aqui na cintura. Um homem precisa de paz. Ainda não são seis e meia. Ela deve estar saindo.
Aperta os olhos turvos, tontos. “Ela... os homens!!!”
Ouviu o tiro. Nem sabe de onde saiu. 

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