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segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Acerto

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)

Sempre foi sozinha. Criada por uma tia velha, mal-humorada.
Fim da adolescência, tia morreu. Trabalhou em alguns lugares. Levava a vida como podia.
Fez um concurso, passou. Funcionária pública.
Mas o destino estava instalado. Não era convidada para festas. Não tinha comemoração.
Ultimamente, já aposentada e velha, falava sozinha na rua. Viam. Engano do mundo. Vingava-se da vida. Andava sempre cercada de amigos.

Surpresa noturna

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)

Não dormia direito há dias, desde que, numa noite, quarto escuro, vizinhos sossegados, caiu no sono. Lá para o meio da noite, um barulho estranho começou. Olho aberto, deitado ainda na cama, procurou identificar o que era. Nada.
Luz acesa, olha daqui, olha de lá. Barulho parado. Pensou que era sonho. Custou a dormir outra vez.
Sono engatado, lá vem o ruído de novo. Luz acesa, olha lá, olha aqui.
E foi assim durante toda a semana.
Naquela noite, ficou de tocaia. Não ia acender a luz. Não ia dormir. Dormiu.
Barulho chegado, zonzo, levantou no escuro, pé ante pé. Tropeção na cadeira. Canela doendo, acende a luz.
Dois olhos atônitos. Surpreso, um rato pequeno também queria saber que barulhão foi aquele.

Terceiro olho

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)

A família sempre a achou meio desequilibrada. Tinha mania com a morte. Um dia, acordava e dava uma faxina nos armários, jogava um monte de coisas fora, "para não dar trabalho, quando morresse." Algumas vezes, teve de comprar de novo.
Com muito jeito, um amigo querido e diplomático conseguiu que ela procurasse um psicólogo.
Foi, a princípio, um pouco desconfiada. Depois adorou. Gostava do papo bom, sem compromisso. Conversava, desabafava, pagava e ia embora.
Convenceu-se, claro, de que a gente tem de se preparar para a vida. Comprou sofás novos, um armário grande para o quarto, trocou as cortinas, o fogão e a geladeira.
Morreu atropelada um mês depois, num lindo dia de sol, céu azul, a vida explodindo em todas as suas formas.

sábado, 29 de agosto de 2009

Ad aeternum

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)


As pessoas conversam baixo. Morte natural, idade avançada. Nada espetacular. Sofrimento para poucos. A maioria pensa na própria vida. Folga do trabalho não planejada. Melhor que feriado.
O mais feliz, no meio da sala, seria o morto finalmente para sempre liberto da dor, da angústia, do medo, da ânsia e dos hipócritas. Mas o morto jamais saberá disso.

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